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segunda-feira, 24 de junho de 2013

PAISES RICOS, PAÍSES POBRES...


“As nações fracassam quando concentram o poder em poucas mãos”
O que determina que um país seja rico ou pobre? O professor turco-americano Daron Acemoglu, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), acredita que depende das instituições e de se as sociedades são “inclusivas” ou “extrativas”. Ele abordou o assunto em seu escritório do MIT de Boston antes de viajar para Buenos Aires para fazer palestra. Na entrevista ao Clarín, ele também falou sobre o Brasil.
Por GUSTAVO SIERRA



Nogales é uma cidade dividida pela fronteira entre os Estados Unidos e o México. As duas partes têm uma origem comum, mas um presente muito diferente.
A do norte é rica e a do sul, pobre. Algo parecido acontece com as Coreias ou com Botsuana, que atingiu um aceitável nível de desenvolvimento nos últimos 20 anos enquanto seus vizinhos Zimbábue, Congo e Serra Leoa estão submersos na mais extrema pobreza.
Esses são os exemplos que formam a base da teoria dos professores Daron Acemoglu do MIT e James Robinson de Harvard, apresentada no livro Por que os países fracassam (Deusto, 2012).
Para os autores, a chave de tudo está nas instituições.
Só com um conjunto de instituições políticas e econômicas –Estado centralizado e eficaz que garanta o cumprimento das leis, proveja educação de qualidade e infraestrutura, democracia republicana e pluralista, sociedade civil vigorosa e organizada em grupos de interesse, imprensa livre e crítica– é possível atingir um alto desenvolvimento.
As nações prosperam quando desenvolvem instituições “inclusivas” e fracassam quando se transformam em “extrativas” ao “concentrar os recursos e o poder em poucas mãos”.
O professor Daron Acemoglu aborda estes temas horas antes de embarcar para Buenos Aires para fazer palestra em um evento organizado pelo IAE Business School (Universidade Austral), RAP (Rede de Ação Política), CIPPEC, Universidade de San Martín e Universidade de San Andrés.
Que instituições tornam um país essencialmente inclusivo?
Nossa teoria é que é necessário haver instituições econômicas inclusivas que como mínimo deem garantias à propriedade privada, contratos e investimentos para um setor muito amplo da sociedade e que sejam as bases do crescimento sustentado.
Tudo isso só é possível com instituições políticas inclusivas que distribuam o poder da forma mais extensa possível dentro da sociedade e que garantam a lei e a ordem.
Como as instituições políticas e econômicas devem se coordenar para criar as condições de prosperidade? Quem deve liderar a mudança: os políticos ou os técnicos economistas?
É um blender, uma unidade de dois elementos: o econômico e o político.
Não podem ser separados. Por sua natureza, as instituições inclusivas não podem ser administradas por elites.
Portanto não acredito que devam estar somente em mãos de técnicos.
Precisam ter o apoio de uma parte muito ampla da sociedade e que existam lideranças sociais ou políticas.
Qual é o papel que as organizações da sociedade civil devem ter nesse processo?
É de uma importância central. A mudança deve ser liderada pelas organizações sociais e não por alguns poucos privilegiados.
Ainda temos que continuar apostando nos partidos políticos tradicionais para encontrar saídas?
Não tenho certeza. Às vezes esses movimentos que vão por fora dos partidos tradicionais conseguem se consolidar e são motores de transformação.
Em outros casos é só esperar que ocorram transformações internas nos grandes partidos.
Nesse caso é possível conjugar os dois exemplos: um movimento externo influi na mudança do partido tradicional.
Como o senhor vê os movimentos dos indignados que estão crescendo no mundo inteiro? Eles têm futuro?
São apenas expressões de descontentamento. No entanto, muitos desses movimentos podem ser muito úteis.
Mesmo que não se transformem em expressões majoritárias, suas bandeiras acabam sendo assumidas pelos partidos.
O movimento Ocupy Wall Street conseguiu impor o assunto da desigualdade na sociedade americana.
Em sua análise histórica o senhor coloca como exemplo do desenvolvimento europeu-americano a Revolução Industrial na Grã Bretanha ou a Revolução Francesa.
Não acredita que esses processos se consolidaram e tiveram sucesso graças ao colonialismo?
Existem diversos fatores. Como o senhor sugere, a Grã Bretanha e a França retardaram o desenvolvimento econômico de alguns países e regiões por via do colonialismo.
Mas em outros casos, as novas tecnologias foram resistidas pelas próprias elites locais que acreditavam que elas poderiam pôr em perigo sua dominação política.
A Rússia e o império Austro-Húngaro, no século XIX, são um exemplo.
O senhor não acredita que o protecionismo que acompanhou a expansão econômica dos Estados Unidos e da Europa prejudicou as economias dos países em desenvolvimento e que esse é um elemento que não pode ser deixado de lado no momento de analisar a raiz de por que existem países que fracassam?
Honestamente, não tenho uma resposta concludente.
É claro que este tipo de protecionismo, que possui profundas raízes políticas, prejudicou os países em desenvolvimento.
Por outro lado, não tenho certeza de que os têxteis indígenas poderiam ter sobrevivido às mudanças tecnológicas britânicas inclusive sem esse protecionismo.
Existe uma crença popular que diz que as instituições emanadas da colônia britânica são mais progressistas do que as das colônias espanholas e, portanto, criaram nações mais prósperas.
É verdade? Por quê?
Não existe nenhuma evidência disso. Os britânicos tiveram os mesmos comportamentos que os franceses e espanhóis. Inclusive onde as colônias britânicas foram institucionalmente mais progressistas, não foi por escolha, mas por necessidade.
Na América do Norte, os britânicos fizeram as mesmas cosas que os espanhóis no sul.
Mas porque as condições e as instituições britânicas eram diferentes, finalmente tiveram outro resultado.
O senhor tem dúvidas sobre a transformação da China em potência porque está assentada em instituições autoritárias.
Sim, tenho dúvidas de que China possa atingir rapidamente o crescimento de largo prazo baseado na mudança tecnológica e na inovação.
Tenho duas razões. Em primeiro lugar, creio que é difícil manter instituições econômicas inclusivas quando elas estão baseadas em instituições políticas extrativas.
O poder está nas mãos de uma pequena elite que usa o poder político para seu próprio benefício, o que socava a inclusão.
Em segundo lugar, creio que as instituições políticas extrativas tendem a limitar a liberdade econômica.
E a liberdade econômica é especialmente importante para um país que está procurando desenvolver novas tecnologias e a inovação.
Nesse sentido, como o senhor vê o processo do Brasil?
Lá eu também vejo várias instituições econômicas muito arcaicas e a economia não é suficientemente dinâmica.
O Brasil necessita de maiores reformas e não está claro que tenha uma vocação profunda de realizá-las.
O populismo causou muito dano no mundo inteiro. Mas na América Latina parece ser que os regimes populistas são os mais capazes de atingir as camadas mais pobres da população. Por que as instituições políticas e econômicas mais progressistas muitas vezes permanecem afastadas dos mais pobres?
Não acredito que os regimes populistas sejam os únicos capazes de chegar aos setores mais empobrecidos.
No Chile e no Brasil muito foi feito sem cair no populismo. Em compensação no Equador, na Bolívia ou na Venezuela as pessoas, decepcionadas com os partidos tradicionais e o poder das elites, se voltaram para os líderes populistas.
Não é irracional, porém comporta um enorme custo.
Torna-se ainda mais custoso quando a política populista se entrincheira e está bem organizada, como ocorre em vários países latino-americanos.
O senhor utiliza o exemplo do fracasso histórico argentino em várias passagens do livro. O que a Argentina poderia ter feito e em que momento para torcer esse destino?
A fins do século XIX, a Argentina experimentou um dos períodos mais bem-sucedidos de crescimento extrativo da história mundial e compartilha essa posição com a União Soviética ou mais recentemente com a China e Cingapura.
Mas esse tipo de crescimento extrativo não é perdurável no tempo a menos que se abra a um sistema político inclusivo. Isso não ocorreu.
As nações fracassam quando concentram o poder em poucas mãos. Um século depois, muitas dessas condições persistem na Argentina e o atual esquema político-econômico obviamente não é inclusivo. Parece-me que para avançar haveria que começar rompendo o monopólio dos partidos tradicionais.
Em seu livro a segurança jurídica aparece como chave do processo de desenvolvimento. Como vê essa situação na Argentina?
A expropriação de 51% da petroleira YPF, por exemplo, não parece o melhor caminho neste sentido, independentemente de a Argentina estar diante de um problema severo de déficit energético.
Acredito que o país vá sofrer duramente quando se dê a conhecer a decisão do tribunal formado para resolver sobre o nível de compensação.
De todo modo, isso é pouca coisa em comparação com o “corralito” de 2001, quando o governo expropriou efetivamente 75% da poupança das pessoas nos bancos. Essas medidas podem condenar o país a um século de estancamento econômico.
O atual processo argentino se viu beneficiado pelo alto preço das matérias primas, particularmente da soja.
Se esses recursos não tivessem sido desperdiçados poderiam ter sido suficientes para criar as condições de uma sociedade inclusiva e colocar o país em um caminho de desenvolvimento?
Não é fácil de determinar. De fato, no século XIX a Argentina não desperdiçou a oportunidade que teve com suas matérias primas e se transformou temporariamente em um país rico.
Mas isso não foi suficiente para o desenvolvimento econômico e político, e em última instância, abriu o caminho para o ciclo das políticas disfuncionais que se transformou em uma marca de identidade argentina no século XX.
Prefiro fixar minhas esperanças na mudança política da Argentina em lugar de fixá-la no preço dos seus recursos naturais.
Como o senhor caracterizaria a nova elite econômica emanada do boom da soja? Acredita que se trata de um modelo “inclusivo” ou “extrativo”?
Peço desculpas, mas depois de toda esta conversa e dos exemplos que falamos, tenho que responder com outra pergunta: E você, o que acha?



Copyright Clarín, 2013.

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