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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O ORGULHO E A PROFISSÃO








"Ponía todo su orgullo en renunciar a cosas en las que le iba mucho" 1.


A tarefa do tradutor é estranha, pois é à vez central e periférica.
Central porque o tradutor, no sentido mais amplo, o mediador cultural, é essencial para a comunicação entre distintas partes do mundo.
Periférica porque alguns prefeririam que o tradutor fora invisível, e o desejam insignificante, mal pago e sem reconhecimento.
Tal vez por isso na categoria profissional da tradução, após duma seleção "natural" inicial, só encontramos pessoas dotadas de grande força de vontade, tenacidade e resistência, com um forte senso dos objetivos que perseguem.
É também uma das profissões nas que existe maior diversidade em quanto às modalidades de trabalho. Há tradutores de tempo completo, outros que tem à tradução como segunda ou terceira atividade, há tradutores internos e autônomos, os que trabalham para agencias e os freelance.
Alguns o vivem como um trabalho divertido; outros como algo temporal.
As características que compartilham todos os bons tradutores são a curiosidade, a abertura no olhar e o prazer de trocar com frequência duma temática a outra.
Os tradutores e intérpretes são leitores vorazes e omnívoros, gente que costuma ler quatro livros à vez, em distintos idiomas, de ficção e não ficção, de aspectos técnicos ou humanísticos, de todo e de qualquer coisa [...] possuem uma grande riqueza interna de distintos "seres" ou "personalidades", dispostos a se recompor ante a tela do computador cada vez que chega um texto novo. (Robinson 1997: 27)
Segundo Robinson, os conceitos de orgulho profissional do tradutor contem três fatores, fiabilidade, compenetração e ética.
Respeito à fiabilidade, a busca da melhor solução não está ditada só por fatores externos (cliente, etc.), mas também pela necessidade pessoal.
Para um profissional envolve grande importância encontrar a palavra precisa e a construção mais adequada duma solução determinada.
A compenetração profissional é fundamental para evitar que a prática cotidiana termine por resultar tediosa.
Daí a importância de intercambiar ideias com os colegas, de seguir cursos de formação, de assistir a palestras e de participar em reuniões que reforcem a autoestima profissional do tradutor.
Ler sobre tradução, falar de tradução com outros tradutores, debater problemas e soluções referentes à transferência linguística, à inadimplência de trabalhos realizados e casos similares, seguir cursos de tradução ou assistir a palestras sobre tradução: todo isso nos produz a forte sensação de que não somos serventes mal pagos, senão profissionais rodeados por outros profissionais que compartilham nossas preocupações. (Robinson 1997: 30)
Esta necessidade se deve a que um dos aspetos mais evidentes da profissão é a dispersão geográfica.
Muita gente de outras profissões opina: que bacana é ser tradutor, viajar onde um quer, viver numa ilha se deseja, e seguir trabalhando.
Embora, o de "viver numa ilha" é um risco permanente, inclusive quando se trabalha na mesma cidade que habitam clientes e colegas, até o ponto de que alguns costumam comentar que prefeririam realizar um trabalho menos remunerado, porém que lhes consentira algum intercâmbio humano durante a jornada, ainda que fora algo tão insignificante como um par de palavras a respeito ao tempo ou sobre o cansaço acumulado.
Por último, também é de grande importância o aspecto ético.
Até que ponto é lícito distorcer o original a solicitude do cliente? Isto não é fácil de responder, pois como já temos visto baixo o conceito de tradução total se agrupam todos os processos de comunicação que incluem um prototexto e um metatexto.
E todos os processos de comunicação, que comportam o passo através da fase de material mental mais ou menos conscientemente manipulado para produzir o metatexto, pressupõem um generoso aporte da ideologia individual do tradutor.
Apresentam-se, pois, casos de contraste ideológico entre o autor e o tradutor, como os quais lembra Robinson:
Que faz o tradutor feminista quando se lhe solicita a tradução dum texto manifestamente machista?
Que faz o tradutor liberal quando se lhe solicita a tradução dum texto neonazista?
Que faz o tradutor ecologista quando se lhe encarrega à tradução da campanha publicitária duma companhia química ecologicamente irresponsável? (Robinson 1997: 31)
Acredito que a resposta é: faz o que pode.
É evidente que, em última instancia, depende de se o tradutor pode se permitir prescindir do trabalho que se lhe oferece.
Nos países sem democracia, por exemplo, os tradutores - e também os autores— cada dia têm que atingir um compromisso com sua própria consciência ética.
Numa unidade anterior mencionei o manual de tradução de Fyodorov, com um capítulo no que destacava o papel de tradutólogos de Marx, Engels e Lenin.
Sem dúvida, era um capítulo ditado pela necessidade de publicar um livro que bajulara aos obtusos censores e lhe ajudara a chegar ao fim do mês, quiçá com algum problema de consciência, porém ao menos vivo e alimentado.
Em sociedades aparentemente mais livres, as estruturas econômicas podem ser iguais de terríveis.
O importante é ter em conta que os tradutores não são invisíveis, e que se o são, devem deixar de serem-lo, suas ideologias, ocultas ou manifestas, desempenham um papel muito importante em suas traduções, e para poder estar em paz com eles mesmos, têm que estar em paz com seu orgulho profissional.
Têm que resolver com serenidade o oximorón de que o original é uma cópia e a cópia é um original, e necessitam deixar sua pegada no trabalho que realizam, na medida de sua função e consequente com seus critérios deontológicos.

BIBLIOGRAFIA
CANETTI ELIAS Die gerettete Zunge. - Die Fackel im Ohr. - Das Augenspiel, München, Carl Hanser Verlag, 1995, ISBN 3-446-18062-1.
CANETTI ELIAS The Tongue Set Free. Remembrance of a European Childhood, traducido por Joachim Neugroschel en The Memoirs of Elias Canetti, New York, Farrar, Straus and Giroux, 1999, ISBN 0-374-19950-7, p. 1-286.
CANETTI ELIAS Historia de una vida. Traducciones de Genoveva Dieterich, Juan José del Solar y Andrés Sánchez Pascual. Galaxia Gutenberg - Círculo de Lectores, 2002.
ROBINSON DOUGLAS Becoming a Translator. An Accelerated Course, London and New York, Routledge, 1997, ISBN 0-415-14861-8
1 Canetti 1999: 259.
FONTE: http://courses.logos.it/pls/dictionary/linguistic_resources.cap_4_39?lang=es

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