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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A precariedade no mundo da tradução






Escrito por Elizabeth Sánchez León (*) e publicado no 09/25/2010 no “El Taller del Traductor”

Faz alguns dias falava com uns companheiros sobre a revolução à que assistimos estes dias no mundo da tradução, com empresas tão importantes como Lionbridge tentando trocar seu modelo de negócio, o que tem provocado que muitos de seus colaboradores ponham o grito no céu e denunciem publicamente umas condições de trabalho que desde faz tempo consideravam abusivas.
Os comentários de outros colegas me tem feito refletir sobre a relação do tradutor com as empresas de tradução.
Eu cheguei ao mercado faz sete anos, com formação universitária e sem haver ouvido uma palavra sobre preços, negociação ou vantagens competitivas durante o tempo que estive na universidade.
A pesar de que o título universitário em Tradução e Interpretação é relativamente recente, os tradutores existimos desde sempre, o que me leva a pensar que é o que tiveram que fazer para entrar no mercado os tradutores que agora rondam os 40 e que levam 20 anos traduzindo.
Em listas de distribuição como Tradução na Espanha tenho lido mensagens de companheiros que falam de traduzir com máquina de escrever, de WordPerfect ou de enviar as traduções por fax. Algo que a muitos nos parece de outra época.
No tenho lido muito sobre o marketing que deviam fazer os tradutores antes da difusão massiva de Internet, porém suponho que tinham que tocar muitas portas e enviar muitas cartas comerciais.
Embora, apesar de que a informática, Internet e o uso de ferramentas de tradução assistida tenham facilitado muito o trabalho e nossa promoção como profissionais, também tem trazido consigo uma diminuição das barreiras de entrada à profissão.
Este fato, somado à proliferação de faculdades de Tradução e Interpretação e à grande diferença entre a universidade e o mundo profissional, tem conseguido que cada ano tenha 22 promoções de licenciados em Tradução e Linguística que desconhecem o valor de seu trabalho.
Os recém licenciados estão desmotivados, entre outras coisas, por culpa dum professorado que não tem traduzido jamais a nível profissional, que desconhece como é o dia a dia dum tradutor autônomo, que não tem sido capaz de se reciclar (ou que não lhe interessa) e que não deixa de repetir de forma direta ou indireta que da tradução não se pode viver.
Eu me pergunto de onde vem tanto pessimismo.
Muitos se referem à tradução literária, mercado que já não é o que foi em seu momento e que faz anos que deixou de ser rentável para muitos pela grande quantidade de tradutores dispostos a deixar a pele por uma miséria e pela pouca quantidade de livros que se vendem atualmente.
Porém, que há do resto das especialidades como a tradução técnica?
Parece que na faculdade tem menos valor traduzir um manual de um lava roupas que um best-seller.
Sejamos realistas: estatisticamente as probabilidades de que nos toque traduzir o próximo «Código da Vinci» são muito reduzidas, isso nos faz piores tradutores?
Isso implica que não se possa viver da tradução? Não.
Senhores, se pode viver da tradução traduzindo manuais de lava roupas.
Que não recebo direitos de autor? Não me importo.
Que não aparece meu nome? Faz anos que deixei de me preocupar por isso.
O que sim me preocupa é que os recém licenciados sejam tão pessimistas e que ninguém lhes ensine que o mercado da tradução está composto maioritariamente de autônomos, que é mais fácil se fazer tradutor por conta própria que conseguir trabalho como tradutor com carteira assinada e que, no longo prazo, o esforço e o tempo dedicados a cultivar uma carreira profissional tem uma remuneração muito maior por conta própria.
Algo que me leva a uma outra reflexão:
Porque nos planos de estudo dos graus ou ensinos superiores não há matérias relacionadas com gestão empresarial e marketing?
Porque não se avaliam as capacidades comerciais e de gestão dos alunos de tradução?
Os professores são conscientes de que o mercado se nutre de tradutores autônomos e ter uma disciplina deste tipo ajudaria a melhorar as condições às que, a miúdo, se submetem os tradutores com pouca experiência.
Um recém licenciado recebe um encargo por parte duma multinacional do setor, lhe oferecem 0,03 cêntimos (de euro) por palavra, e o estudante aceita encantado.
Quiçá porque não sabe valorizar seu trabalho, quiçá porque não sabe o que se cobra habitualmente ou, o que é pior, porque acredita que se pede mais não lhe darão o trabalho.
Se pode fazer bastante para evitar os dois primeiros supostos, já que estão motivados pelo desconhecimento, porém rebater a ideia de cobrar menos pelo medo a não receber o encargo é muito mais difícil.
Por isso uma matéria de marketing deveria ser obrigatória para os estudantes de tradução. Não tem que ser muito complexa, com princípios básicos bastaria.
Por exemplo:
Só podes concorrer em preço, qualidade ou serviço.
Se competes em preço, tem em conta que sempre haverá alguém mais barato que você e que enquanto o cliente o encontre, irá com esse tradutor ou te pedirá igualar as ofertas.
Ademais, se cobramos pouco porque vivemos com nossos pais e não temos muitos gastos, que faremos ao nos emancipar?
Se concorres em serviço como, por exemplo, ser o mais rápido, poderás pôr um maior preço e poderás fidelizar melhor a teus clientes.
Se decides ser o mais rápido e o mais barato, não poderás assegurar a qualidade de teu trabalho.
Se competes em qualidade, atrairás a clientes aos que lhes importe teu trabalho e poderás administrar melhor teu tempo.
Porém, claro, como lhes vão a ensinar isso na faculdade se os que têm que faze-lo o desconhecem?
Se as pessoas que devem motivar aos alunos para que empreendam, não tem empreendido jamais nem tiveram que se enfrentar nunca ao cliente, como vamos a conseguir que os licenciados em tradução saíam da faculdade com vontade conquistar ao mundo e sem deixar que empresas sem escrúpulos se aproveitem deles?
Acaso poderiam ter tanto poder essas empresas se não existiram tantos tradutores dispostos a pagar por trabalhar?
Faz alguns anos, quando se traduzia com máquina de escrever, não imagino uma situação como a que vivemos atualmente.
Se juntarmos a explosão tecnológica, o aumento de faculdades de Tradução e o desconhecimento do mundo empresarial que impera na carreira, não é de estranhar que se produza este descalabro.
Me consta que já há muitos professores que fomentam diálogos e colóquios com antigos alunos como exemplos de que não é impossível viver da tradução, mas acredito que não é suficiente.
Uma tarde de motivação não pode combater quatro anos de pessimismo constante e de ausência total de ensino sobre o mercado profissional atual da tradução.

(*) Elizabeth Sánchez León - Tradutora da ordem Jedi. Trabalha no berço dos videojogos.

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