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A Guerra da água começa: Os primeiros passos o dão as grandes empresas
FONTE: TARINGA.NET
Faz anos, cada certo tempo, surge timidamente uma voz que pretende nos avisar que num futuro próximo as cruentas guerras originadas pelo petróleo ficarão esquecidas no passado; e embora não será porque se tenha solucionado o problema energético do planeta, senão porque outros problemas ainda maiores nos ameaçarão.
Este novo problema não ameaçará com fazermos retroceder 50 anos no tempo se não somos capazes de detê-lo a tempo, não nos devolverá à era pré-tecnológica, este problema de escassez ameaçará nossa própria existência.
A água, um bem muito escasso no planeta e pouco apreciado no chamado primeiro mundo, começara a escassear, os distintos povos, as grandes empresas e os governos começarão a se situar num dos dois únicos bandos que se criarão; os que possuem a água e lutam para preservar e comercializar a preço de ouro seu excedente, e frente a eles, os governos que carecem da suficiente água para manter a seu povo e estão dispostos a conseguir a qualquer preço.
As estimações feitas pelos cientistas nos dizem que para o ano 2025 (apenas 14 anos) a demanda deste elemento tão necessário para a vida humana será 56% superior que o subministro...e aqueles que possuam água poderão ser alvo dum saqueio forçado.
Calcula-se que para os 6,25 bilhões de habitantes aos que temos chegado se necessitaria já um 20% mais de água.
A pugna é entre quem acredita que a água deve ser considerada um bem comercializável (como atualmente o são bens básicos como o trigo, o arroz...) e aqueles que expressam que é um bem social relacionado com o direito à vida.
Os alcances da soberania nacional e as ferramentas legais são também parte deste combate.
Só o 3 % da água do planeta é água doce, e dessa porcentagem, só os 0.4 % é água superficial ou atmosférica, ou o
que é o mesmo, acessível, e por si fora pouco, a metade dos grandes rios do planeta tem ano trás ano diminuído seu caudal ou bem apresentam grandes signos de contaminação .
De fato, no dia de hoje, 1,5 bilhões de pessoas não têm acesso a água potável..., porém por fortuna para a paz mundial, estes 1,5 bilhões de pessoas são as mesmas que tampouco têm um acesso direto ao resto de bens básicos para garantir
a própria existência como são, por exemplo, o trigo e o arroz antes mencionados.
São do terceiro mundo, não possuem armas, não têm força política, não têm voz, não importam.
Embora esta é uma situação que irremediavelmente terá que trocar, e o fará quando os países que se importam comecem a pugnar entre eles por água.
A só 14 anos de que essas cifras se materializem já se podem apreciar as trocas e os movimentos preguiçosos dos distintos países para pouco a pouco se preparar.
No ano 2000, em Haia, Holanda, 160 governos acordaram que a água seria uma necessidade humana e não um direito do homem; cuidado com a semântica, esta diferenciação não é por acaso, se podem fazer negócios as custas das necessidades humanas, porém não a custa dos direitos humanos.
E como não, tampouco perdem tempo as distintas empresas que olham neste futuro, não é um reto para a humanidade, senão uma oportunidade.
Nos últimos anos, por exemplo, temos visto a grandes corporações posicionando se neste mercado.
As francesas Vivendi e Suez (classificadas nos postos 51 e 99 respectivamente no Global Fortune 500 do 2001).
A alemã RWE (no posto 53), que adquiriu duas importantes empresas de água, Thames Water no Reino Unido e American Water Works, nos Estados Unidos de Norte América.
Temos visto também, grupos de investimentos de risco adquirindo os direitos de exploração de distintos glaciares.
Mas um de destes exemplos, o que põe o título a esta entrada e se leva a palma, o pôde observar na Argentina, particularmente no Paraná.
A empresa estadunidense Makhena SA com sede em Miami e filial em Buenos Aires é a proprietária da marca de água engarrafada Gold Spring.
O particular deste caso é sem dúvida o método de extração desta água.
Qualquer navio, para navegar e manter sua flutuabilidade e equilíbrio necessita ser lastrado com água.
Esta empresa atua da seguinte maneira; aproveita sua presença na zona para importar a Argentina todo tipo de produtos através do rio Paraná, porém seu negócio não está só no transporte desses produtos.
Uma vez depositados em porto os produtos, seus navios são lastrados a sua máxima capacidade com água diretamente obtida do rio Paraná, uma água que uma vez tirada do país é transportada, tornada potável e vendida nos mercados de Oriente Médio, África e Europa
O negócio é redondo, obtém a água de maneira totalmente gratuita e a vendem ao melhor preço e com as melhores referências de origem possíveis.
Um navio carregado de água doce com capacidade para 70 mil toneladas, pode se vender essa mesmo água por 2 milhões de dólares no Oriente Médio, sem sequer necessitar engarrafar-la.
Buques no rio Paraná
E tudo isto o fazem ante o olhar e o conhecimento do que acontece das próprias autoridades portuárias que não
possuem meios jurídicos para atuar contra este tráfico ilegal da água. A fatalista predição de que começaríamos a nos roubar uns aos outros algo tão básico como a água há começado a fazer-se realidade.