O eco-desenho é uma versão ampliada e melhorada das técnicas para o desenvolvimento de produtos, através da qual a empresa aprende a desenvolver-los de uma forma mais estruturada e racional.
O eco-desenho conduz a uma produção sustentável e um consumo mais racional de recursos. O conceito de eco-desenho está contemplado na agenda de negócios de muitos países industrializados, e é uma preocupação crescente em aqueles em desenvolvimento.
Reunir informação é parte importante da metodologia para obter uma
perspectiva do contexto ambiental e econômico. A análise e a informação reunida permitem respaldar as decisões e possibilitam o controle de ingressos e egressos. Os projetos de desenvolvimento de produtos abarcam muitas considerações e ao seguir um processo estruturado dará confiança nas decisões e estratégias escolhidas.
Outro aspecto inovador do eco-desenho é seu enfoque sobre todo o ciclo de vida do produto, que é parte integral de sua aplicação.
Porém o aproveitamento desta oportunidade implicará a reformulação dos produtos a partir do desenho mesmo e a atuação proativa ao longo de todo seu ciclo de vida: desde a obtenção das matérias primas-que em muitos casos são recursos naturais -, até sua reintegração ao ciclo mesmo, ao final de sua vida útil. Integrando estas oportunidades como parte dum mesmo esquema é possível obter múltiplos benefícios: minimizar os custos de produção e o consumo de materiais e recursos, aperfeiçoarem a qualidade dos produtos, melhorarem a vida útil dos produtos, selecionar os recursos mais sustentáveis ou com menor conteúdo energético, buscar a utilização de tecnologias mais limpas e minimizar os custos de manejo de resíduos e desfechos.
Em termos gerais, o termo eco-desenho significa que ‘o ambiente’
ajuda a definir a direção das decisões que se tomam no desenho. Em outras palavras, o ambiente se transforma no co-piloto no desenvolvimento dum produto. Neste processo se lhe assina ao ambiente o mesmo ‘status’ que aos valores industriais mais tradicionais: lucros, funcionalidade, estética, ergonomia, imagem e, sobre todo, qualidade. Em alguns casos, o ambiente pode inclusive ressaltar os valores tradicionais do âmbito comercial.
Passos do eco-desenho:
Uma ferramenta efetiva
O Eco-desenho é uma metodologia amplamente provada e os resultados de projetos levados a cabo tanto na Europa como em América Central prometem uma redução duns 30% a uns 50% do deterioro do ambiente que a miúdo é factível em curto prazo. A experiência tem demonstrado que começar o processo é relativamente simples. O enfoque “passo a passo” nos guia através do processo e a metodologia está planejada de maneira muito prática. Através de sua aplicação em empresas centro-americanas se há comprovado que este método é capaz de gerar excelentes resultados desde a primeira vez que se aplica.
Eco-desenho combina proteção do ambiente e economia sustentável
Por Francesca Colombo
ROMA - Uma cozinha de papelão construída com 70 quilos de publicações, um abrigo de plástico e uma luminária de papel são alguns exemplos do eco-desenho italiano, que combina proteção do ambiente e economia sustentável. O desenho verde soma estratégias, métodos e instrumentos inovadores para prevenir e reduzir os impactos ambientais negativos em todas as fases do ciclo de um produto sem descuidar da estética, disse ao Terramérica a arquiteta Lucia Pietrosi, professora de Desenho Industrial da Universidade La Sapienza de Roma.
Em 2002, a Itália desperdiçou 29,8 milhões de toneladas de plástico, segundo a Agência para Proteção do Meio Ambiente italiana. No ano seguinte foram recuperadas 900 toneladas, sobretudo para fazer móveis e vestuário. De cada dez garrafas de plástico que foram para o lixo são obtidas fibras sintéticas para fazer uma cadeira, com 45 copos de plástico se faz um banco e com 31 garrafas uma árvore de Natal. Também se reutiliza papelão, papel, alumínio e aço. A eco-inovação explora recursos renováveis e separa os componentes de um produto no final de seu ciclo de vida para eliminar substâncias perigosas.
Com materiais pobres os artistas se inspiram, experimentam e criam. Um exemplo é a mostra Mais Além das Caixas. Desenho com Papel e Papelão, realizada a cada ano na Faculdade de Arquitetura da Universidade Ludovico de Roma. Algumas atrações dessa mostra foram a cadeira Recall, com 70% de alumínio e papelão reciclados (de Marco Capellini, da empresa Remade), o vestido Medusa, confeccionado à mão e em papel (da arquiteta Caterina Crepax), uma mesa-escritório de papelão ondulado que suporta 80 quilos de peso, e o Lucky, cavalinho de papelão para crianças (de llaria Vitanostra).
Na Itália bebemos muito café e a cafeteira é feita de alumínio reciclado, mas ninguém sabe e assim se economiza 85% da grande quantidade de energia necessária para produzir alumínio virgem, explicou ao Terramérica o arquiteto Capellini, fundador do Matrec, o primeiro banco de dados italiano de acesso gratuito sobre eco-desenho e reciclagem. Até alguns anos atrás, os produtos de reciclagem eram menosprezados na Itália, mas atualmente 90% dos consumidores se declaram dispostos a comprar mercadorias de uns três mil produtores. Alguns empresários se queixam de que o eco-desenho ainda não produz objetos com recepção equivalente à dos tradicionais. Entretanto, são cada vez mais os produtos italianos que ganham a etiqueta Ecolabel, um certificado europeu de qualidade ambiental.
O Parlamento Europeu adotou este ano um regulamento que impõe, pelo menos até 2008, a reutilização de 60% dos resíduos de papel e vidro, 50% dos de aço e alumínio, 22,5% dos de plástico e 15% dos de madeira, para reduzir o impacto ambiental de resíduos e embalagens. Na Itália não foram consolidados até os anos 90 os conceitos verdes de projeto e construção que são discutidos no norte da Europa desde os anos 60. Um decreto de agosto de 2003 dispõe que 30% dos bens adquiridos pela administração pública italiana sejam fabricados com matéria-prima reciclada.
A tendência atual de empresas como a Merloni, líder em eletrodomésticos de linha branca (para cozinha e lavagem de roupas) da União Européia, é destacar a funcionalidade e a redução dos efeitos adversos, ambientais e sociais, na fabricação de seus produtos. A empresa, que produziu em 2003 cerca de 13 milhões de eletrodomésticos, recicla materiais, não para fazer produtos da linha branca, mas para fazer bicicletas de alumínio e móveis para o lar. Respeitamos as regras da União Européia e temos um comitê de vigilância que controla o estilo e a construção em termos de economia de energia, porque trabalhamos com o conceito de respeito ao ambiente, assegurou ao Terramérica Chiara Pascarella, da Merloni.
Os eco-desenhistas enfrentam o desafio de usar mais imaginação do que seus colegas tradicionais e às vezes suas criações não são bonitas. A mistura de vários tipos de plástico, por exemplo, nem sempre dá resultados homogêneos ou atraentes. O eco-desenho não é só o trabalho com o material reciclado, mas também fazer eletrodomésticos sustentáveis que não causem danos ao ambiente, sejam fáceis de montar e desmontar, e economizem energia, sustentou Capellini.
A empresa Indarte produz com baixo custo e em pequenas séries, relógios feitos com faróis de bicicleta, lâmpadas feitas com vasilhas de conservas e escovas de alumínio concebidas para durar 20 anos. Não estamos nisto por consciência ecológica mas por falta de capital para outras propostas. O verdadeiro eco-desenho se valoriza com base na quantidade de energia e material utilizada, não desperdiça nada e constrói objetos indestrutíveis que não saem de moda, disse ao Terramérica, na cidade de Turin, o proprietário da Indarte, Marco Gilioli.
Os consumidores compram por três fatores: beleza, qualidade e preço. Se for acrescentado o respeito ao ambiente, é um ponto a mais na hora de comprar, segundo o arquiteto Giuseppe Lotty, do Centro Experimental de Móveis da Universidade de Florência.
* A autora é colaboradora da Terramérica.
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