A Teoria U na sustentabilidade
29 de Julho de 2008 –
Uma queixa comum entre as pessoas - especialmente os funcionários - é que o
discurso da sustentabilidade costuma ser mais pródigo na boca de líderes empresariais
do que a sua inserção nas estratégias de negócios. E isso ocorre em grande medida por que
as corporações resistem ao novo e também a aceitar os custos, financeiros e comportamentais,
da mudança.
Em sua defesa, as empresas alegam que a mudança decorrente da incorporação do conceito
ocorre lentamente porque requer a substituição de modelos de pensar e fazer negócios
arraigados e a assimilação de novas práticas por parte de todos os colaboradores, parceiros
de cadeia produtiva e consumidores.
O certo é que a mudança tem sido mesmo demasiado lenta e não tão linear, até para
corporações líderes no tema, que vêm seguindo, de modo coerente, o passo a passo da
cidadania corporativa e da responsabilidade social empresarial. Parte desse quadro pode ser
atribuída às dificuldades naturais relacionadas ou à complexidade do negócio ou ao necessário
fardo do reajuste de cultura organizacional.
Outra parte, ao fato de que, apesar de bem intencionadas, talvez as empresas não estejam
sabendo mobilizar, engajar e educar os funcionários nos processos de mudança.
A sustentabilidade representa o novo. E não se consegue criar o futuro utilizando esquemas
mentais do passado.
A respeito desse importante desafio, convém aos líderes de empresas sustentáveis ler
Presença: Propósito Humano e o Campo do Futuro (Cultrix, 2007).
Escrito a oito mãos, por Otto Scharmer (Massachusets Institute of Tecnology), Joseph Jaworski
(Global Leadership Inititative) , Betty Flowers (Universidade do Texas) e Peter Senge, o já
famoso guru da gestão do conhecimento, esta obra trata da construção de um novo tipo de
saber e de uma nova forma de aprendizagem organizacional, válidos para o tema da
sustentabilidade.
Entre ouras teses, os autores defendem que já não se pode mais planejar a mudança
corporativa tomando como base apenas a experiência anterior, com a atenção voltada
exclusivamente para o passado. Esse modelo de aprendizado, ainda predominante nas
empresas persiste nos processos de mudança planejados, que se baseiam no velho roteiro
de reunir informações, decidir, envolver pessoas, monitorar e controlar.
A limitação desse esquema está no fato de que, invariavelmente, ele não permite uma
compreensão profunda da situação nem o envolvimento necessário das pessoas para suportar
a mudança em meio às pressões das circunstâncias. Em temas naturalmente mais complexos,
como a da sustentabilidade, que exigem a integração de diferentes públicos na tarefa de criar
o futuro, ele tem se mostrado insuficiente.
Como alternativa a ele, os autores propõem uma teoria, denominada "U", que se estrutura em
três etapas: sentir, presenciar e concretizar.
Para Senge e sua troupe, esses três aspectos encontram-se presentes nos processos
convencionais de mudança planejada. A diferença é que eles se tornam superficiais na medida
em que escasseia o espaço para o "sentir". Reunir informações é um esforço insatisfatório –
crêem - quando não vem acompanhado de uma suspensão nos modos habituais de ver e de
um redirecionamento da atenção para perceber a situação "de dentro dela" e não como seu
observador externo. Os autores acham que se não sentimos a "nova realidade", tendemos a
reproduzir esquemas mentais preexistentes que serão cada dia menos eficazes para aprender
em questões novas como a da sustentabilidade.
Os processos habituais de mudança receitam tomar decisões, criar uma "visão" inspiradora e
botá-la na boca de um líder carismático que vai engajar pessoas. Para os idealizadores da
teoria do U, esse modelo não leva em conta como os decisores sentem o tema, não permite
que as pessoas descubram em si e vivenciem o valor de mudar, o que gera normalmente uma
espécie de distanciamento do objeto proposto pela mudança. O problema dos discursos de sustentabilidade - segundo os autores - é que, na maioria dos casos, os públicos de interesse
de uma empresa não o "presenciam". E se não o "presenciam" não conseguem perceber
intimamente o seu significado mais amplo. Não é por acaso que, nas empresas consideradas modelares em sustentabilidade, os funcionários tomaram o tema para si como uma causa que transcende o próprio negócio e não como uma estratégia racional para proteger ativos ou
manter a competitividade.
Nos esforços habituais de aprendizagem empresarial, prevalece certo apego cego ao
"plano de ação" e as etapas nele estabelecidas. Se por um lado isso ajuda, com sua lógica
cartesiana, a orientar o trajeto rumo a um objetivo de mudança, o plano acaba por reforçar
- na análise do grupo de Senge – a separação entre os atores do processo e aquilo que
desejam mudar.
Para criar o futuro - defendem - deve-se agir "no mundo" e não "sobre o mundo".
O ato de "concretizar", que está na haste direita da "subida" do U pressupõe revelar uma
realidade nova e construí-la coletivamente, a partir de um fluxo natural de mudança.
Enquanto os objetivos de sustentabilidade forem apenas "declarações de propósitos elevados"
em documentos bonitos que se penduram na parede, e o caminho para atingi-los deixar de
considerar como as pessoas vivenciam o tema, a mudança necessária seguirá em ritmo lento
e artificial. Para deleite dos céticos que se comprazem em associar o interesse das empresas
pelo tema a puro estratagema de marketing.
Talvez as empresas não estejam sabendo educar, mobilizar e engajar os funcionários
nos processos de mudança
Autor: Ricardo Voltolini -
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