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terça-feira, 8 de setembro de 2009

ImportaRSE - Florianópolis



RSE é a RSE e sua circunstância

06/09/2009

Suponho que ao ler o título os leitores pensaram na famosa expressão de Ortega e Gasset, usada pela primeira vez em suas Meditações do Quixote em 1914, Eu sou eu e minha circunstância. Com essa frase Ortega e Gasset queria dizer que o EU não pode existir em isolamento, que não é abstrato, que está condicionado pelas circunstâncias em que lhe toca viver, pelo entorno que o rodeia.

Esta consideração é hoje muito oportuna e perfeitamente aplicável às discussões que se têm sobre a responsabilidade social da empresa, tanto no cambiante entorno econômico e social em que lhe toca “viver”, como nas estratégias em diferentes países, como sobre os esforços que se fazem para uniformisar-la, para definir-la, para normatizar-la, em fazer-la viver em abstrato.

Nos tempos de mudanças as empresas hão podido/tido que dar-se conta de que o que é uma “responsabilidade” em tempos de bonança econômica pode ser “voluntário” em tempos de escassez e o que nunca se consideraria em tempos de bonança se converte num imperativo em tempos de escassez. Em tempos de bonança algumas empresas estavam dispostas a incluir como uma de suas “responsabilidades” a promoção da cultura, mas quando acresce a crise se converte em dispensável. Em tempos de bonança jamais se pensou que era responsabilidade da empresa dar descontos em seus serviços aos desempregados, mas na crise se tem considerado uma responsabilidade ante a sociedade (e ante os benefícios, para não perder-los como clientes!).

As multinacionais que operam em diferentes países sabem que o que se considera uma responsabilidade empresarial varia segundo os valores culturais da sociedade em que operam, do esquema institucional do país (sociedade civil, governo, etc.). das necessidades da população, de suas expectativas sobre o comportamento das empresas e das percepções que se tem sobre a empresa em particular. É reconhecido, ainda não óbvio para todos, que as práticas responsáveis variam de país a país e ainda no tempo, ao variar as necessidades, expectativas, percepções e o impacto das instituições. E não estamos falando só de investimento social. A relevância de temas como o emprego a pessoas em desvantagem, o câmbio climático e o bom governo corporativo, varia de país a país e algumas com o tempo.

Muitos supõem que para promover práticas responsáveis primeiro há que acordar uma definição da RSE. Parecera que só tipificando as práticas responsáveis se podem entender. Tudo o contrário. O tratar de circunscrever algo tão amplo, variante e variável como é o comportamento das empresas pode ser contraproducente. Os tempos recentes têm demonstrado que a criatividade empresarial é ilimitada e que pode usar-se para bem ou para mal.

Certo é que há alguns elementos básicos que deveriam ser validos em todos os tempos. Alguns dizem que o comportamento ético, que o fundamento da RSE, é uma constante universal. Mas ainda isto é cambiante e varia de país a país. Um recente estudo mostrou que por razões culturais o consumidor chinês não lhe parece não ético o comprar CDs piratas. Incluso, na era de internet, são muitos os jovens que não entendem a necessidade de respeitar os direitos de propriedade intelectual da música e consideram que o “baixar-lo de graça” é um direito. Algo parecido sucede com o nepotismo e os subornos. Variam de país a país e com o tempo.

Assim como o EU, é o EU, mas esse EU esteja condicionado por suas circunstâncias, as práticas responsáveis dependem do seu entorno econômico, político, social e ainda da história, dos antecedentes, dos prejuízos, das circunstâncias.

Podemos ter uma definição da RSE? Podemos tipificar-la? Não é impossível lograr uma definição do que é a RSE, mas para que cubra todas as circunstâncias deverá ser tão geral que deixa de ser prática. Isto há levado a muitas controvérsias sobre o que é a RSE, criando confusão, nos separa mais que nos une e há retrasado sua adoção. E confusão criada também tem dado lugar a uma grande proliferação de nomes para a RSE. Todos os dias aparecem novos nomes para tratar de capturar sua essência. A responsabilidade duma Pyme não é a mesma que a duma multinacional. A responsabilidade duma multinacional na Espanha não é a mesma que quando opera em Colômbia. A responsabilidade das empresas que operam num país com grandes necessidades insatisfeitas, com fracas administrações locais, não é a mesma que as que operam em países com forte institucionalidade e amplos recursos. A responsabilidade da empresa hoje não é a mesma que a que era em 2005 nem é a que será nos 2012.

É possível que a empresa seja totalmente responsável em todos os âmbitos, em todos os tempos? Tomara. Mas não se podem promover práticas responsáveis dum modo absolutista. Será mais efetivo para as partes interessadas entender e usar as circunstâncias para fazer que a empresa adote práticas responsáveis acordes com sua realidade.

No mesmo ensaio, Ortega e Gasset diz: “O homem rende ao máximo de sua capacidade quando adquire a plena consciência de suas circunstâncias”. Aplicável à RSE? Poderíamos parafrasear: A RSE rende ao máximo de sua capacidade quando adquire plena consciência de suas circunstâncias. E é que a RSE não é só a RSE. A RSE é a RSE e suas circunstâncias.

ANTONIO VIVES

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