BERNARDO KLIKSBERG. -
“PRIMEIRO AS PESSOAS...”
Arantxa Corella - Madrid - 07/12/2009
“Há quem diz que a RSC é um exercício de marketing das empresas, mas o que está acontecendo é algo muito mais profundo”, assegura este economista e sociólogo argentino que acaba de escrever o livro, Primeiro as pessoas, junto ao prêmio Nobel de Economia Amartya Sen. Bernardo Kliksberg explica que a empresa privada é um motor de progresso e que a RSC é fundamental para sua competitividade. Opina que a responsabilidade corporativa não é um tema mais, senão que é parte fundamental da solução aos problemas que estamos vivendo.
Que acredita que entende a sociedade à respeito RSC?
A sociedade opina que uma empresa é socialmente responsável quando, em primeiro lugar, têm uma boa política de relações humanas porque a RSC começa em casa. E uma boa política laboral quer dizer possibilidades de desenvolvimento, aprendizagem e de eliminação das formas diretas e encobertas de discriminação do gênero, que a pesar dos avanços, segue sendo um problema muito crítico. Hoje em dia, menos de 10% de todos os executivos das empresas do mundo são mulheres. O teto de cristal segue sendo muito forte. Uma boa política laboral também implica um bom equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho, porque a família é a instituição base da sociedade.
E em sua opinião,o que define uma empresa responsável?
Um dos aspectos é precisamente o laboral a que antes me referia. Ademais, uma empresa responsável deve ter uma relação leal com os consumidores no sentido de oferecer produtos de qualidade a preços razoáveis. Ademais, se espera que esteja comprometida com respeito ao meio ambiente, mas que não só as empresas sejam reativas, senão proativas, que sejam ativistas em seu cuidado. Uma companhia socialmente responsável se compromete seriamente ajudar nas grandes causas de interesse coletivo da sociedade. Na América Latina, por exemplo, significa lutar para a erradicação do trabalho infantil. Mais de 11% de todas as crianças de América Latina trabalham em condições totalmente insalubres e isso significa que não vão poder educar-se. O que pede a opinião pública não é que a empresa privada substitua as empresas públicas, senão que desenvolva alianças estratégicas público-privadas. Um exemplo dele é a Fundação Gates, ou o programa de Telefônica Pró - criança, que em seis anos têm tirado a 200.000 crianças do trabalho infantil.
Que papel tem o bom governo corporativo na RSC?
Um bom governo corporativo é fundamental para que uma empresa seja socialmente responsável. Alguns estudos, inclusos os da OCDE, dizem que as falhas no governo corporativo tiveram muito a ver para que estejamos neste momento de crise, que é a pior dos últimos 80 anos. Se tivera havido um governo corporativo de qualidade as coisas provavelmente haveriam sido muito diferentes.
Acredita que os líderes atuais e futuros têm uma boa formação em responsabilidade corporativa?
A educação é crucial. Necessitamos atuar já, formando em RSC as novas gerações de economistas, de gerentes, de líderes empresariais de toda ordem nas universidades principais de Latino América. E já o temos começado fazer. Eu sou fundador duma rede que temos criado com o apoio de Nações Unidas e o Ministério de Assuntos Exteriores e Cooperação espanhol, que se chama Redunirse. Esta rede está constituída pelas 130 universidades mais importantes de 21 países e têm por finalidade impulsionar a formação prática em RSC.
Reputação. "Uma dos melhores investimentos é em RSC"
Bernardo Kliksberg não duvida. A RSC é um investimento e não uma despesa. Uma empresa responsável é muito mais competitiva e a boa reputação obtida através da aplicação de princípios responsáveis se espalha a todos os mercados num mundo globalizado.
Por que acredita que a empresa privada e em especial as grandes corporações estão tão interessadas na RSC?
Por várias razões. Porém a mais importante é que a aplicação dos princípios de RSC faz mais produtiva e competitiva à empresa.
Não se trata dum gasto que nestes momentos de crise pode ser difícil assumir?
Não, é um investimento puro e duro. As empresas estão acostumadas a dirigir os grandes investimentos. E um dos melhores investimentos no século XXI é a RSC. Está demonstrado que o rendimento médio dos empregados das empresas com altos níveis de responsabilidade social corporativa é superior cinco vezes o duma empresa sem RSC, porque seu pessoal se sente parte duma empresa que cria valor social, assim que é fundamental para ser altamente competitiva. Ademais, num mundo globalizado a informação sobre RSC se divulga rapidamente e a boa imagem se traslada a todos os países nos que está operando. E da mesma forma também se traslada rapidamente a imagem ruim duma empresa.
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