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quinta-feira, 3 de março de 2011

BILINGÜISMO



Estudo da Universidade de Santiago de Compostela

Dois idiomas podem coexistir em harmonia

● Um modelo matemático demonstra que duas línguas podem coexistir
● O estudo se realizou utilizando o galego e o espanhol
● A clave é que sejam duas línguas parecidas e tenham um status similar

Teresa Guerrero | Madri
Fonte: El Mundo – España -03/03/2011

É possível que duas línguas convivam em harmonia numa região?
Se olharmos à situação de algumas comunidades bilíngües no mundo, a resposta mais freqüente seria 'depende'. E é que a normalidade com a que os cidadãos de algumas zonas bilíngües se expressam em seus dois idiomas contrasta com os enfrentamentos e as polêmicas que a causa lingüística gera em alguns setores da população ou em regiões nas que se percebe que uma língua está sendo imposta à outra.
Um modelo matemático desenvolvido por investigadores da Universidade também oferece um 'depende' por resposta. Segundo sua pesquisa, que publica 'New Journal of Physics', duas línguas pode coexistir pacificamente se, se cumprem dois fatores: que os dois idiomas sejam parecidos e que tenham um status similar. Se isto é assim, a competição entre dois idiomas não leva inevitavelmente à desaparição de um deles, como outro estudo prévio havia sugerido.
Jorge Mira, diretor do departamento de Física Aplicada da Universidade de Santiago e autor principal desta investigação, utilizaram o galego e o espanhol para elaborar seu modelo matemático. Os resultados, assegura em conversação telefônica com ELMUNDO.es, mostram que em Galícia é "perfeitamente possível" a convivência dos dois idiomas.
'Distância entre línguas'
Porém, que fazem um experto em eletromagnetismo e um investigador de física de partículas desenvolvendo modelos matemáticos sobre o bilingüismo? Todo começou por pura curiosidade, explica Mira. Em 2003, os pesquisadores Abrams e Strogatz publicaram um artigo na revista 'Nature' no que "levaram a cabo uma análise muito original sobre a dinâmica da evolução do número de falantes de duas línguas quando convive no mesmo espaço".
“A conclusão do estudo de Abrams e Strogatz é que quando duas línguas estão em contato, uma delas acaba impondo-se à outra”. A Mira, que vive em Galícia, lhe surpreendeu o resultado desta investigação: "Olhando com detalhe este trabalho, observei que as línguas que haviam utilizado em seu estudo (inglês- galés, inglês-gaélico e espanhol - quéchua) eram completamente diferentes em sua natureza". E é que o catalão e o espanhol são duas línguas diferentes, porém muito mais parecidas entre elas que, por exemplo, o espanhol e o chinês. Assim surgiu o conceito de "distância entre línguas". "Pensei que esse parecido que há entre algumas línguas possivelmente se poderia computar", agrega.
"Se trata dum conceito que responde à intuição”. Por exemplo, entre o japonês e o espanhol há uma distância muito maior que entre o catalão e o espanhol. “Faltava lhe, pôr um número", explica.
Status dum idioma
Em 2005, Mira desenvolveu um sistema de equações diferenciais nas que insere vários parâmetros: a distância entre línguas e o status, que indica a percepção que os falantes têm sobre as vantagens duma língua. Por exemplo, o status do galego tem variado enormemente no último século. "Há passado de ser uma língua proscrita, utilizada majoritariamente pela população mais pobre, a estar equiparada com o espanhol".
Os dados mais atuais do Instituto galego de Estatística são do ano 2000 e indicam que um 20% da população fala só espanhol, um 15% se expressa só em galego e aproximadamente os 60% da população é bilíngüe.
Os autores do estudo aplicaram este sistema de equações aos dados históricos disponíveis sobre a população que falava em espanhol e galego (os registros mais antigos são de finais do século XIX). A cifra que obtiveram sobre a distância entre ambas as línguas, é dizer, sobre seu parecido, foi dos 80%.
Mira lembra que os resultados desta investigação, publicados pouco antes das eleições autonômicas de 2005, tiveram eco na campanha eleitoral galega, na que o assunto lingüístico costuma ser um dos temas estrela.
"Faltava-nos o seguinte passo. Uma vez que comprovamos que o modelo funcionava queríamos comprovar se o sistema era matematicamente estável e poderia servir para predizer o que aconteceria no futuro". Agora, os pesquisadores têm logrado demonstrar que "o sistema é estável. Duas línguas podem coexistir no mesmo âmbito sempre e quando se estabeleçam uma série de condições: que haja um valor mínimo de similitude e status entre as línguas.
Limitações do modelo
Uma das limitações do modelo é que o status pode variar no tempo, como tem acontecido com o galego. Este dado se obteve a partir da informação disponível desde 1875, pelo que só seria um promédio já que o status real do galego na atualidade seria superior. Segundo Mira, o status do espanhol seguramente seguiria algo por cima. Outra limitação do estudo é que não têm em conta as variáveis derivadas da imigração, a emigração ou as taxas de nascimento e mortalidade.
O pesquisador explica que, segundo seu modelo, para que uma língua sobreviva numa comunidade bilíngüe na que o status dos dois idiomas está equilibrada, sua distância com o outro idioma não pode ser inferior aos 40%. Embora, se o status duma das línguas é muito superior, a porcentagem que indica a similitude teria que ser mais alto para que a língua mais fraca sobrevivesse (por cima dos 75%, dependendo do status).
De momento, o autor não há aplicado seu modelo ao catalão ou ao euskara. Este último é um idioma completamente distinto ao espanhol pelo que, segundo este sistema matemático, "um dos dois idiomas seria o vencedor" e se imporia ao outro. Embora, Jorge Mira prefere não entrar neste caso já que considera que seu modelo é só duma proposta e haveria que ter em conta também a influência da atividade política antes de determinar se uma língua está em risco de desaparecer.
Embora, o investigador confessa se sentir muito atraído pelo caso belga, um país praticamente dividido lingüisticamente entre flamencos e valões: "Gostaria de estudar a coexistência entre o francês e o neerlandês", afirma.
Seu modelo matemático poderia ser útil para ajudar a por em marcha estratégias lingüísticas em zonas em conflito embora o objetivo inicial de seu estudo fosse satisfazer sua própria curiosidade: "Para mim é quase uma afeição", sinala o físico. E cita a Galileu: "A natureza é um livro escrito em linguagem matemática".


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