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segunda-feira, 2 de maio de 2011

CIENCIA E FILOSOFIA


DESCULPAS PARA NÃO PENSAR

Que distingue aos filósofos dos cientistas?
Que distingue aos filósofos dos cientistas?
Quando muitas pessoas se empenham em explicar ou que acreditam ou pensam - a maior parte das conversações trata disso -, sempre tenho a tentação de lhes sugerir que me falem somente do que já está provado. «Se há podido demonstrar? O que dizes se há comprovado já?»


Claro que poderíamos falar de quantidade de coisas que não se tem podido provar ainda: por exemplo, existem os extraterrestres? Criou Deus o universo? E de ser certo que um terço da matéria que existe é obscura - é dizer, não temos nem idéia do que é -, chegaremos um dia, a saber-lo? Este tipo de perguntas é próprio do segundo grande grupo de dogmáticos: os cientistas.


O primeiro grande grupo, em câmbio, o formam os que nunca têm considerado como fatos surpreendentes os grandes descobrimentos científicos. Não lhes interessa a ciência, que tem oposto sempre à filosofia, sua disciplina predileta. «Olhe que - costumam dizer eles -, tem tido um sonho esplendoroso que antecipava com um detalhe incrível o que me aconteceria hoje.» São as mesmas pessoas que não costumam querer trocar de opinião, porque o considera uma espécie de confissão de que se haviam equivocado; não desejam por nada do mundo deixar de ser quem são.


Os do segundo grupo - o dos chamados a si mesmos «cientistas»- podem ser tão dogmáticos como os primeiros. Atuam como se nunca tiveram ouvido o princípio básico do que arranca todo o método científico: «Vou-lhes sugerir uma teses que tem podido comprovar de momento e que, por tanto, até que outro não me demonstre o contrário, é isso aí», disseram os fundadores do método positivo. «Eu afirmo -diz um dia o grande cientista Newton- que o tempo é absoluto e igual para todo o mundo»; esta foi a tese por ele comprovada da natureza incólume do tempo. Até que chegou Einstein pouco depois e comprovou que o tempo era relativo; que sua duração e identidade dependiam da velocidade à que se deslocava o sujeito cujo tempo se media e da massa gravitacional que o rodeava.


O primeiro grupo, embora, se aferra à eternidade, as verdades e meias verdades o são para sempre. Os dogmas não podem se alterar passe o que passe em torno nosso. Os dogmáticos estão brigados com a humildade necessária para aceitar que as coisas podem trocar, começando por suas próprias convicções e eles mesmos.

Deus meu! Não me falem que não é surpreendente que a maior parte do gênero humano, sumida num mundo cambiante de gêneros, etnias, estações, idades e pensamentos, se tenha aferrado a umas quantas idéias básicas de caráter supostamente permanente.
«O que eu te falo sempre foi assim e sempre o será.»


A os dogmáticos do segundo grupo, os que se chamam «científicos», em cambio, lhes custa admitir que um dia, no futuro distante, a ciência possa terminar dizendo que já há descoberto todo o que podia descobrir e que o cérebro não da para mais. Ao longo dos últimos três milhões de anos o cérebro humano, medido em relação ao corpo, se tem multiplicado por três. Agora mesmo não sabemos se esse cérebro, que a evolução tem tido arquitetando para sobreviver e não para descobrir a origem da matéria e o universo, seguirá sendo uma espécie de biscate bastante indicada para protegermos dos terremotos sociais e da natureza. Ou se, pelo contrário, nos permitirá adentrarmos em todos os segredos da vida e do universo. O que sim sabemos é que se pode ser dogmático em qualquer dos dois grupos, no dos crentes e no dos científicos, no de direitas e no de esquerdas.
Eduardo Punset
FONTE: XL SEMANAL ESPANHA

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