ADM -Armas de distração em massa
A agnotologia é o estudo da fabricação premeditada
do desconhecimento
20/03/2017
Aproximam-se as eleições francesas e alemãs e, em ambos os países,
políticos e jornalistas se perguntam como enfrentar eventuais campanhas de uso
contínuo de dados falsos, que tanto sucesso tiveram no Reino
Unido e nos Estados Unidos. As Armas de Distração em Massa (título de uma
canção do grupo francês de rap IAM e de um filme norte-americano bem ruim) são
um fenômeno novo porque não fazem parte dos clássicos mecanismos de propaganda
política idealizados na Alemanha de
entre guerras ou na União Soviética dos
anos trinta. Essas ADMs se destinam a mercados ocidentais, com democracias
liberais, e foram testadas e aperfeiçoadas por especialistas vinculados à
extrema direita ou à chamada direita
alternativa, originária dos Estados Unidos.
Sua raiz não está tanto na propaganda
política como na manipulação publicitária, e certamente é mais fácil encontrar
paralelismos com a campanha montada pelas grandes multinacionais do fumo nos
anos sessenta para impedir que seu produto fosse relacionado com o câncer do
que com os discursos de Goebbels e Stalin. O economista e
apresentador da BBC Tim Harford explica isso muito bem em um artigo intitulado The Problem with Facts.
As ADMs
buscam que os debates políticos não se deem no terreno da ação, das medidas
necessárias para solucionar determinados problemas, mas que se esgotem dando
voltas sobre a falsidade de determinados dados. Faz sentido erguer um muro na
fronteira entre o México e os Estados Unidos? Por ora, será preciso
desmentir os dados falsos sobre o custo desse muro, difundidos maciça e
organizadamente pelos interessados. A "bomba de distração" funciona
às maravilhas e as dúvidas sobre o preço se instalam em todos os fóruns de
debate, no lugar do sentido e eficácia do tema.
No fundo, trata-se da total negação do
debate políticoporque este tem de se concentrar não em torno de
alguns dados, mas em torno de propostas para mudar esses dados e a realidade.
As ADMs procuram duas coisas: negar a credibilidade das fontes, por mais
conceituadas que sejam, e negar os próprios fatos. O efeito combinado dessas
duas estratégias é brutal: a produção
intencional de ignorância que, é bom ficar claro, precisa da
colaboração não só de políticos e publicitários, mas também de grandes meios de
comunicação e jornalistas bem conhecidos, comprados ou voluntários.
A agnotologia, o estudo dessa fabricação
premeditada de desconhecimento, teve também um grande momento após a eclosão da
crise econômica. Joaquín
Estefanía recuperou o poder da palavra para contar como os
responsáveis pela Grande Recessão conseguiram introduzir muitíssimo ruído sobre
as causas do que ocorreu, quando estavam perfeitamente conscientes de seu
próprio papel. O mesmo procedimento se aplica agora às causas do mal-estar político,
maciças doses de distração destinadas a desviar a atenção de onde deveria
estar: o que se fez e como pode ser corrigido.
Fazer frente a estratégias tão elaboradas
não é fácil. É preciso divulgar os dados certos e insistir na autoridade das
fontes, claro. Mas existe o perigo de empregar todo o tempo em checar e
desmentir os dados falsos, o que proporcionaria um grande êxito aos
manipuladores, donos da agenda, do enquadramento dos fatos e do debate, e
capazes de ganhar todos os pontos por puro esgotamento do oponente. Assim, os
jornalistas alemães e franceses tentam agora adotar uma estratégia diferente: voltar a contar
histórias nas quais não se fale da mentira, mas em que se mostre a
verdade e sua importância. Grandes histórias sobre a vida real das pessoas.
La agnotología (del griego ἄγνωσις, agnōsis,
"desconocer" (griego ἄγνωτος "desconocido" ), y -λογία,
-logía. es el estudio de la ignorancia o duda culturalmente inducida,
especialmente a la publicación de datos científicos erróneos o tendenciosos.
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