Os professores argumentam que o Brasil tem um custo de vida muito alto. Entre janeiro de 2009 e dezembro de 2016, a
inflação acumulada passou de 65%, segundo os dados oficiais. Além disso, os profissionais estrangeiros do Instituto Cervantes recebem em euros e estão sujeitos às variações do câmbio – algo que pode ser vantajoso ou não. Assim, em 2011 um euro chegou a valer apenas 2,20 reais; em 2015, tinha aumentado para 4,50 reais; hoje, março de 2017, vale 3,30 reais. Os altos cargos do Instituto – diretores, administradores e coordenadores acadêmicos – recebem benefícios que complementam seus pagamentos. Os salários dos profissionais locais, que ganham em reais e têm contratos sob a legislação brasileira, são ajustados anualmente segundo a inflação. Mas os professores efetivos não tiveram nenhum aumento desde 2009.
“Quando cheguei, fui morar sozinho em um apartamento. Hoje vivo com minha esposa, mas se continuasse sozinho, teria de ir para a
favela ou a um bairro no subúrbio. Vou ao supermercado e economizo ao máximo. Compro o que preciso, não o que quero. E se antes costumava comer fora, agora tenho de levar a comida ao trabalho todos os dias”, explica o professor barcelonês Joan Maresma, de 47 anos, que chegou ao
Rio de Janeiro em 2004. “Não sei como faz quem tem filhos”.
Martín, que chegou a Brasília em 2007, explica que precisa viver em uma quitinete e não pode viajar nas
férias. “Pagam-nos um seguro privado de saúde, mas quando temos qualquer problema ou consulta médica precisamos adiantar o dinheiro para depois sermos reembolsados. Mas nem temos esse dinheiro para adiantar!”, explica o professor, natural de Almería, de 50 anos. Conta, além disso, que os profissionais estrangeiros estão no Brasil como funcionários da embaixada e, por isso, não podem dar aulas particulares ou trabalhar em uma universidade para complementar a renda.
Depois de sucessivos cortes (13,9% a menos entre 2012 e 2013), vendas de imóveis e fechamento de unidades (uma delas no Brasil), o Instituto voltou a aumentar seu orçamento em 2014. Desde então, diz Martín, os professores pedem que parte desse aumento seja destinado ao incremento dos salários defasados. Finalmente decidiram convocar vários dias de greve depois que, ainda segundo Martín, os pedidos ficaram sem resposta.
Fontes do organismo afirmam que, em uma viagem a Brasília e São Paulo no ano passado, o secretário-geral Rafael Rodríguez Ponga manifestou, em reuniões com os professores, sua preocupação com os salários defasados. Ressaltam, no entanto, que não é o Instituto quem fixa os salários de seus funcionários, mas o Ministério de Fazenda da
Espanha. Assim, segundo as mesmas fontes, a única coisa que o Instituto Cervantes pode fazer é “transmitir à Fazenda as preocupações dos professores”.
O professor Martín diz que, a partir do terceiro ano em um país, um docente pode pedir transferência a outro país. Esses movimentos de profissionais, conta ele, estão congelados desde 2011. Afirma que, dos 28 professores efetivos que estavam no Brasil, nove deixaram seus postos e dois conseguiram voltar para Madri para fazer outros trabalhos no Instituto. Permaneceram 17. “Não temos opções de mudar. Mas não quero que a opção seja deixar o Brasil, quero que, no Brasil, o Cervantes continue sendo uma instituição de prestígio e qualidade. E deixará de sê-lo se não cuidarem de nós”, avisa.
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