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segunda-feira, 10 de agosto de 2009


RSE - UM IMPERATIVO ÉTICO E ECONÔMICO

Por Bernardo Kliskberg, economista, para o Instituto Argentino de RSE

Passou-se da etapa da “empresa autista” de Milton Friedman, à da filantropia ativa, e já está em pleno desenvolvimento uma terceira: a da Responsabilidade Social Empresarial (RSE), afirma o autor. Diz que as empresas com RSE têm mais lucros que aquelas que não a praticam, já que a sociedade, informada e mobilizada, as valoriza muito mais.

Até pouco tempo os líderes empresariais americanos disputavam posições no ranking dos super milionários. Agora muitos começaram a competir em outra tabela, a da filantropia. Bill Gates e Warren Buffet criaram a maior fundação da história com 61.000 milhões de dólares. Explicaram que não era simplesmente doar, e sair nas fotos. Segundo "The Economist", Buffet fiz sua doação à Fundação Gates, condicionado a que Gates deixara Microsoft e se dedicara à Fundação.

Poucas décadas atrás primava a idéia de Milton Friedman de que a empresa privada só devia render contas a seus acionistas, e produzir benefícios. Hoje está em desuso.

Sendo tão importante seu peso na economia, deve render conta a todos os públicos vinculados com sua atividade, e sendo uma das maiores concentrações de tecnologia do planeta, deve aportar-la aos grandes problemas globais. Ao anunciar sua doação Buffet declarou "o mercado não trabalha em términos de gente pobre", e exortou a ajudar em lugar de transmitir grandes heranças.

Passou-se da etapa da "empresa autista" de Friedman, à da filantropia ativa, porém já está em pleno desenvolvimento uma terceira: a da Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Se lhe exige à empresa boas relações com seu pessoal, governo corporativo transparente, jogo limpo com os consumidores, preservar o meio ambiente, e ser ativa nas grandes causas de interesse público. O passo de uma etapa à outra foi mobilizado por poderosas forças sociais.

Estão as lutas históricas dos empregados por condições dignas de trabalho. Hoje hão integrado questões como o respeito à diversidade e o equilibro família-empresa. Estão os reclamos dos investidores depois da Enron. Cobram transparência, controles eficientes, reduzir os gigantescos pacotes remuneratórios dos altos executivos, e confiabilidade ética. Pressionam os consumidores. Organizam-se para sancionar as empresas que danam a saúde, ou destroem o meio ambiente. Assim foram causando duros prejuízos econômicos as indústrias do tabaco, dos amiantos, e a alguns laboratórios.

Há sociedades civis cada vez mais informadas, articuladas, e participativas. Estão dispostas a fazer boicotes aos que violam princípios de direitos humanos, ou de condições laborais.

Tudo isto incide. As ações baixam ou sobem cada vez mais segundo a RSE. Os fundos de inversão mais importantes estão avaliando a sustentabilidade das empresas tendo em conta seu RSE. A RSE gera diferencias notórias em competitividade nos mercados nacionais e internacionais. Existem novos conceitos como competitividade responsável, empresas verdes, empresas familiarmente responsáveis.

Melhores e mais lucrativas

Cada um dos elementos da RSE favorece a empresa. Um estudo sobre empresas que programaram práticas de diversidade nos Estados Unidos mostra que tiveram em cinco anos retornos anuais de 18,3%, em tanto que as que não o fizeram só obtiveram 7,9%. O 63% dos executivos das 500 empresas maiores acredita que a diversidade produz um ambiente de trabalho mais criativo.

Ademais dos benefícios para a empresa, estão os benefícios para o empresário como pessoa. Estudos recentes da Universidade Hebréia de Jerusalém, Harvard e Michigan mostram que a solidariedade tem altíssimas retribuições em termos de saúde pessoal. O 60% de uma mostra de pessoas de 50 anos ou mais nos Estados Unidos diz que quer, em sua próxima etapa, dedicar-se a melhorar a qualidade de vida em suas comunidades. Com a RSE o empresário não tem porque esperar até que esteja perto de seu retiro. Pode fazer-lo já.

Que tal na América Latina? Muitas empresas seguem em "autismo ativo". Outras ingressaram crescentemente no mundo da filantropia e isto é um avanço muito importante. No Brasil representa já mais de 2.000 milhões de dólares anuais. Sem embargo, se necessita dar o pulo da etapa filantrópica à etapa da RSE.

Comprometer à empresa em aportar, ademais de dinheiro, capacidades gerenciais, espaços em internet, técnicas de produção e de marketing para combater o grave problema da pobreza (41% da população da região) e desigualdade (a maior do globo) que vive América latina, e que com melhoras muito importantes nos desafiam.

Isto não significa de nenhum modo que se pede à empresa resolver-los sozinha. As políticas públicas têm a responsabilidade primeira numa sociedade democrática por garantir a todos os cidadãos seus direitos a nutrição, saúde, educação, e desenvolvimento. Mas a colaboração da empresa privada é clave. A aliança estratégica entre políticas públicas ativas com rosto humano, RSE, e uma sociedade civil mobilizada está atrás do sucesso de países que encabeçam as tabelas mundiais como Noruega, Canadá e outros.

Aí os empresários apóiam pactos fiscais progressivos, colaboram em grande escala com a educação e a saúde, participam das grandes iniciativas públicas, concertam.

Na América latina há que ativar a RSE. Todos ganham com ela. O salto do "autismo" à RSE é uma grande oportunidade, e um reclamo coletivo.

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