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terça-feira, 15 de setembro de 2009

ImportaRSE - Florianópolis


O disparate do rearme regional
Por
Andrés Oppenheimer
Fonte: La Nación.


MIAMI.- A pesar da pior crise econômica mundial desde a década do 30 e dos prognósticos de que o número de pobres se incrementará este ano em América latina, os países da região destinam os maiores orçamentos dos últimos tempos ao gasto militar.
A semana passada, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, visitou Rússia para comprar 500 helicópteros de combate por um valor de 500 milhões de dólares, segundo a agência estatal de notícias russa, RIANovosti. Com esta aquisição, as compras venezuelanas de armas a Rússia nos últimos cinco anos alcançarão os 5000 milhões de dólares.
Uns dias antes, o presidente brasileiro, Luiz
Inacio Lula da Silva, havia recebido a seu par francês, Nicolas Sarkozy, na capital do Brasil, onde anunciou o começo de negociações formais para a compra de 36 aviões de combate Rafale, de fabricação francesa, que provavelmente tenham um custo de mais de 7000 milhões de dólares.
Ademais, Brasil segue adiante com o plano de comprar e produzir com a França outros armamentos franceses, incluindo quatro submarinos de guerra
Scorpène, 50 aviões de transporte militar e o que será o primeiro submarino nuclear de América latina.
Chile, a sua vez, comprou recentemente 18 aviões de combate estadunidenses e anunciou seu plano de adquirir canhões de longo alcance e radares a Estados Unidos. Até Bolívia, o país mais pobre do Cone Sul, há aberto uma línea de crédito de 100 milhões de dólares para comprar armas a Rússia.
Durante uma visita a Peru a semana passada, fiquei surpreso de ver todos os dias grandes titulares nos periódicos sobre as compras de armas em países vizinhos.
"É algo que preocupa - me diz o ministro de Relações Exteriores de Peru, José
Antonio García Belaunde, numa entrevista. Ninguém pode explicar a que obedece, porque esta tem sido una região tradicionalmente pacífica."
Bonança e reservas
De acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres, os gastos de defesa de América latina e o Caribe cresceram o 91% durante os últimos cinco anos, até alcançar os 47.000 milhões de dólares em 2008. Os países que mais incrementaram seus gastos militares foram Venezuela, Brasil e Chile.
"Que está acontecendo?", Perguntei a vários funcionários latino americanos e estadunidenses.
Não é algo disparatado, considerando que poucas semanas atrás o Banco Mundial estimou que o número de pobres na região aumentasse em seis milhões de pessoas este ano devido à crise mundial? Segundo
García Belaunde, uma explicação possível do enorme incremento na compra de armas é a bonança econômica de vários países da região nos últimos anos pela alça das matérias-primas.
Este fenômeno deixou a muitos países com grandes reservas de dinheiro e,
as vezes, quando os governos não chegam a gastar seu orçamento antes de terminar o ano fiscal porque não tem os equipes técnicos ou não lhes alcança o tempo para lançar projetos de infra-estrutura, o mais fácil é comprar as armas exigidas pelas forças armadas, explicou.
Frank Mora, o funcionário do Departamento de Defesa estadunidense a cargo dos assuntos hemisféricos, me diz em outra entrevista que, nos casos de Brasil e Chile, as compras de armas são para modernizar equipes que muitas vezes não tem sido atualizados nos últimos 40 anos.
"Não acredito que isso [as recentes compras de armas] indique uma carreira armamentista", me diz Mora. Agregou que mais dos 80% cento das compras de armas têm sido feitas por tão só três países: Venezuela, Brasil e Chile.
"Mas devemos seguir observando isso cuidadosamente e evitar que isso aconteça no que tem sido historicamente uma zona de paz", agregou.
Malas com dinheiro
Minha opinião: coincido em que o enorme aumento de compras de armas pode dever-se em parte à bonança econômica ou à modernização de equipes obsoleta. Mas suspeito que, especialmente no caso de Venezuela, existe um fator adicional: a corrupção.
Se nos baseamos na história de corrupção de Venezuela e nas evidências de que o governo de
Chávez tem emissários que vão e vêm pelo mundo com malas cheias de dinheiro, não podemos descartar a possibilidade de que Rússia esteja pagando fabulosas comissões a funcionários venezuelanos por seus 5000 milhões de dólares em exportações de armas.
A tragédia para a região, ademais do fato de que os países poderiam usar estes recursos para reduzir a pobreza, é que cada compra de armas dum país põe nervosos os seus vizinhos e os incita também a comprar armas.
É hora de que haja um acordo regional para por limite às compras de armas e para deter esta tendência, que-sejam quais foram suas causas é um disparate total.

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