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quinta-feira, 25 de março de 2010
PARA UMA PESSOA BONITA
Ouvir a Voz do Vale
Shundo Aoyama Rôshi
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A água do rio flui sempre, sem cessar. Flui rápida, não pára um só instante e se vai. Seu murmúrio evoca em mim o eco do tempo.
A água do tempo brilha no leito do Universo, sempre correndo, fluindo. Pedras, árvores, casas e cidades também fluem vagarosamente nesta correnteza, assim como os seres. tudo isso pode parecer imutável, mas na verdade essa idéia não passa de uma ilusão.
Apenas nós, seres humanos, acreditamos erroneamente que tudo é imutável. Esforçamo-nos para não sermos levados pela correnteza e lamentamos por tudo que se vai. No entanto, mesmo sofrendo e desdobrando-nos, caindo sete vezes e nos levantando oito, não há como parar o fluir, que envolve também nossa dor e nossa luta.
Ao invés disso, é melhor ver as coisas como são e nos juntarmos a essa correnteza, com suavidade. Apenas assim poderemos encontrar prazer na fugacidade das coisas, uma vez que é justamente essa fugacidade que tece as mais diversas figuras na tapeçaria da vida.
Quando o shijo [três toques do sino] anuncia o início do zazen [meditação sentada] e tudo está em silêncio, a voz do rio é alta e clara. Durante a caminhada kin'hin [meditação andando], seu som se atenua. E ao final da meditação, ao som do chukai [sinal do término da meditação], a voz do vale desaparece completamente. É muito interessante. Por que será? O som do rio do vale aumenta, diminui, desaparece, mas não é o rio que muda, quando as ondas de nossa mente se acalmam, podemos ouvir o sermão sem palavras da água, das gotas, da erva, das árvores, dos seixos e das montanhas nos ensinando a transitoriedade de todas as coisas. Quando surgem pensamentos, todos se calam. Na verdade, eles não deixam de falar; nós é que perdemos a capacidade de ouvi-los.
O que acontece com nossos ouvidos também acontece com nossos olhos. Quando o olhar da mente é límpido, vemos tudo como realmente é, de modo natural. Mas assim que os olhos se distraem com objetos externos, não vemos mais. Perdemos a capacidade de ver corretamente. Sons e imagens nos atacam, nos arrastam, nos puxam. Coisas que deveríamos ver, não vemos. Coisas que deveríamos ouvir, não ouvimos. Não é assim?
Se escutarmos o rio sem atenção, a água que corre parece ter um ritmo constante e ininterrupto. Entretanto, nenhuma gota d'água passa duas vezes sobre a mesma pedra. Não é nunca a mesma gota que forma o leito do rio ou o murmúrio da correnteza. A imutabilidade é apenas uma ilusão dos olhos e dos ouvidos humanos. Uma vez que tenha passado, a água não corre nunca mais no mesmo ponto do rio.
A vida humana não é diferente. Acreditar que ontem é igual a hoje é resultado de nossa ignorância e insensibilidade. São nossas mentes e nossos olhos deludidos que vêem o passado igual ao presente. Os olhos iluminados vêem claramente a imagem das coisas em eterno movimento e reconhecem que um instante é diferente de qualquer outro.
Escrito durante a participação no Nehan Sesshin (retiro em memória à morte de Shakyamuni Buddha, realizado todos os anos em fevereiro) no Mosteiro Sede de Eihei-ji, em Fukui-ken.
(Shundo Aoyama Rôshi. Para uma pessoa bonita: Contos de uma mestra zen. Prefácio da Monja Coen, traduzido por Tomoko Ueno. São Paulo: Palas Athena / Zen do Brasil, 2002. Pág. 17-18.)
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Oír la Voz del Valle
Shundo Aoyama Rôshi
[Para una persona bonita]________________________________________
El agua del rio fluye siempre, sin cesar. Fluye rápida, no para un solo instante y se va. Su murmullo evoca en mí el eco del tiempo.
El agua del tiempo brilla en el lecho del Universo, siempre corriendo, fluyendo. Piedras, árboles, casas y ciudades también fluyen lentamente en esta corriente, así como los seres, todo esto puede parecer inmutable, pero en verdad esa idea no pasa de una ilusión.
Apenas nosotros, seres humanos, acreditamos erróneamente que todo es inmutable. Nos esforzamos para no ser llevados por la corriente y lamentamos por todo lo que se va. Mientras tanto, incluso sufriendo y desdoblándonos, cayendo siete veces y levantándonos ocho, no hay como parar el flujo, que envuelve también nuestro dolor y nuestra lucha.
Al contrario de ello, es mejor ver las cosas como son y juntarnos a esa corriente, con suavidad. Solo así podremos encontrar placer en la fugacidad de las cosas, considerando que es justamente esa fugacidad la que teje las más diversas figuras en el tapete de la vida.
Cuando el shijo [tres toques de carillón] anuncia el inicio del zazen [meditación sentada] y todo está en silencio, la voz del rio es alta y clara. Durante la caminata kin'hin [meditación andando], su sonido se atenúa. Y al final de la meditación, al son del chukai [señal del término de la meditación], la voz del valle desaparece completamente. Es muy interesante. ¿Por qué será? El sonido del rio en el valle aumenta, disminuye, desaparece, pero no es el rio que cambia, cuando las ondas de nuestra mente se calman, podemos oír el sermón sin palabras del agua, de las gotas, de la hierba, de los árboles, de los guijarros y de las montañas enseñándonos la transitoriedad de todas las cosas. Cuando surgen pensamientos, todos se callan. En verdad, ellos no dejan de hablar; nosotros somos los que perdemos la capacidad de oírlos.
Lo que acontece con nuestros oídos también acontece con nuestros ojos. Cuando el mirar de la mente es límpido, vemos todo como realmente es, de modo natural. Pero así que los ojos se distraen con objetos externos, no vemos más. Perdemos la capacidad de ver correctamente. Sonidos e imágenes nos atacan, nos arrastran, nos empujan. Cosas que deberíamos ver, no las vemos. Cosas que deberíamos oír, no las oímos. ¿No es así?
Si escuchamos al rio sin atención, el agua que corre parece tener un ritmo constante e ininterrumpido. Entretanto, ninguna gota de agua pasa dos veces sobre la misma piedra. No es nunca la misma gota que forma el lecho del rio o el murmullo de la corriente. La inmutabilidad es apenas una ilusión de los ojos y de los oídos humanos. Una vez que haya pasado, el agua no corre nunca más en el mismo punto del río.
La vida humana no es diferente. Acreditar que ayer es igual a hoy es resultado de nuestra ignorancia e insensibilidad. Son nuestras mentes y nuestros ojos engañados que ven al pasado igual al presente. Los ojos iluminados ven claramente la imagen de las cosas en eterno movimiento y reconocen que un instante es diferente de cualquier otro.
Escrito durante la participación en el Nehan Sesshin (retiro en memoria a la muerte de Shakyamuni Buddha, realizado todos los años en febrero) en el Monasterio Sede de Eihei-ji, en Fukui-ken.
(Shundo Aoyama Rôshi. Para una persona bonita: Cuentos de una maestra zen. Prefacio da Monja Coen, traducido por Tomoko Ueno. São Paulo: Palas Athena / Zen do Brasil, 2002)
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