17 erros de português para não repetir
Medo que ou medo de que? À medida que ou à medida em que? Tire suas dúvidas com as dicas abaixo
Por Gabriel Bentley
Procuramos especialistas em língua portuguesa para saber as principais gafes que muita gente comete quando o assunto é falar dentro dos padrões linguísticos. Assim, você não esquece mais e evita aquela desilusão gramatical amorosa:
1) Tenho medo que ocorra um terremoto aqui.
O substantivo ‘medo’ precisa da preposição ‘de’ antes de seu complemento. Exemplo: medo de chuva, medo de terremoto. Se o complemento é toda uma frase, como no exemplo acima, é melhor escrever assim: “Tenho medo de que ocorra um terremoto aqui”.
2) Ninguém possue apenas qualidades positivas.
Os verbos terminados em “uir”, como possuir, têm a terminação “ui”: “Ninguém possui apenas qualidades positivas”. Apenas os verbos terminados em “uar”, como continuar, têm a terminação “ue”: “Desejo que ninguém continue escrevendo assim”.
3) Muitos eleitores se absteram de votar nas eleições de ontem.
O verbo ‘abster’ deriva de ter, conjugando-se como ele. Assim como dizemos “eles tiveram muitos votos”, assim devemos dizer “muitos eleitores se abstiveram de votar nas eleições de ontem”.
4) Esta é uma questão que deve ser resolvida entre tu e ele.
As preposições se constroem habitualmente com pronomes do caso oblíquo. Tu é do caso reto. A construção culta é “esta é uma questão que deve ser resolvida entre ti e ele”. Vale o mesmo para a primeira pessoa do singular: “entre mim e ele”.
5) Eu estou fora de si.
No exemplo acima, o sujeito é da primeira pessoa do singular, e o reflexivo, a forma correta, deveria ser mim: “Eu estou fora de mim”.
6) Eu havia escrevido uma carta para minha mãe.
O verbo ‘escrever’ caiu na cilada dos verbos com final regular (-ado, -edo, -ido), apesar de não se enquadrar nesse padrão. São verbos que só admitem, no padrão culto da língua, particípios irregulares, como fazer (feito), abrir (aberto), ver (visto). Portanto seria melhor dizer: “Eu havia escrito uma carta para minha mãe”.
7) Eu gostaria que ela não viesse para cá.
O verbo ‘gostar’ rege complementos introduzidos pela preposição ‘de’. Exemplo: gosto de paçoca. Mas, quando esse complemento é toda uma frase, como acima, essa frase também deve vir, ao menos na língua formal, acompanhada de uma preposição: “Eu gostaria de que ela não viesse para cá”.
8) As ideias que concordo são sempre as menos radicais.
Como dizemos concordo com as ideias, devemos dizer: “As ideias com queconcordo são sempre as menos radicais”.
9) Duas milhões de pessoas estiveram na passeata.
Alguns substantivos que indicam quantidade, como dezena, centena, milhão, bilhão, têm gênero próprio e costumam ser usados seguidos da preposição ‘de’. Exemplo: compare uma dezena de livros com um milhão de reais. No caso acima, ocorreu uma concordância imprópria do numeral duas com o substantivo feminino ‘pessoas’. O melhor é dizer e escrever “dois milhões de pessoas estiveram na passeata”.
10) À medida em que as pessoas envelhecem, elas se tornam mais tolerantes.
Locuções conjuncionais como ‘à medida que’, ‘à proporção que’ dispensam a preposição ‘em’ antes do ‘que’: “À medida que as pessoas envelhecem, elas se tornam mais tolerantes”.
11) Ele fez um tratamento eficaz para a calvice.
A palavra negritada no exemplo termina em ‘–ie’: “Ele fez um tratamento eficaz para a calvície”.
12) Os jogadores substimaram a capacidade dos rivais.
A partir do verbo estimar, foi formado o verbo subestimar. Portanto: “Os jogadores subestimaram a capacidade dos rivais”.
13) Viste todas as folhas com sua rúbrica.
A palavra é paroxítona (a sílaba tônica, com mais intensidade na frase, é a penúltima). Portanto: “Viste todas as folhas com sua rubrica”. Escreva sem acento, mas fale como “rubríca”.
14) Minha moto é igual aquela que você comprou.
Dizemos ‘igual a isto’, ‘igual a todos’, sempre com a preposição a. Como ‘aquela’ começa com a vogal a, ocorre na pronúncia a crase entre a preposição e essa primeira vogal. Na língua escrita, registramos esse fenômeno com o sinal grave: “Minha moto é igual àquela que você comprou”.
15) Já passavam das três horas quando ele chegou.
Construído com a preposição ‘de’, o verbo ‘passar’ tem o sentido de “ultrapassar, exceder”, é unipessoal e, por isso, deve permanecer na terceira pessoa do singular: “Já passava das três horas quando ele chegou”.
16) A liminar foi caçada pela desembargadora.
‘Caçar’ e ‘cassar’ são homônimos, mantendo sentidos diferentes. ‘Caçar’ é “sair à caça”, e a desembargadora não deve ter abatido a liminar a tiros. ‘Cassar’ é “suspender os efeitos de uma ação”. Nossa desembargadora foi por aqui: “A liminar foi cassada pela desembargadora”.
17) Todos temos dificuldades parecidas com a língua. Por isso, suas dúvidas vão de encontro às nossas.
‘Ir de encontro a’ é “chocar-se, trombar”. Exemplo: o carro foi de encontro ao poste. ‘Ir ao encontro de’ é “coincidir, pensar da mesma forma”. É o que acontece em uma discussão, em que, em que “suas dúvidas vão ao encontro das nossas”.
* Esses erros foram indicados por Eduardo Calbucci, Supervisor de Português do Anglo Vestibulares, e Ataliba T. de Castilho, professor aposentado na USP, autor da Gramática do Português Brasileiro para VEJA SÃO PAULO.
Procuramos especialistas em língua portuguesa para saber as principais gafes que muita gente comete quando o assunto é falar dentro dos padrões linguísticos. Assim, você não esquece mais e evita aquela desilusão gramatical amorosa:
1) Tenho medo que ocorra um terremoto aqui.
O substantivo ‘medo’ precisa da preposição ‘de’ antes de seu complemento. Exemplo: medo de chuva, medo de terremoto. Se o complemento é toda uma frase, como no exemplo acima, é melhor escrever assim: “Tenho medo de que ocorra um terremoto aqui”.
2) Ninguém possue apenas qualidades positivas.
Os verbos terminados em “uir”, como possuir, têm a terminação “ui”: “Ninguém possui apenas qualidades positivas”. Apenas os verbos terminados em “uar”, como continuar, têm a terminação “ue”: “Desejo que ninguém continue escrevendo assim”.
3) Muitos eleitores se absteram de votar nas eleições de ontem.
O verbo ‘abster’ deriva de ter, conjugando-se como ele. Assim como dizemos “eles tiveram muitos votos”, assim devemos dizer “muitos eleitores se abstiveram de votar nas eleições de ontem”.
4) Esta é uma questão que deve ser resolvida entre tu e ele.
As preposições se constroem habitualmente com pronomes do caso oblíquo. Tu é do caso reto. A construção culta é “esta é uma questão que deve ser resolvida entre ti e ele”. Vale o mesmo para a primeira pessoa do singular: “entre mim e ele”.
5) Eu estou fora de si.
No exemplo acima, o sujeito é da primeira pessoa do singular, e o reflexivo, a forma correta, deveria ser mim: “Eu estou fora de mim”.
6) Eu havia escrevido uma carta para minha mãe.
O verbo ‘escrever’ caiu na cilada dos verbos com final regular (-ado, -edo, -ido), apesar de não se enquadrar nesse padrão. São verbos que só admitem, no padrão culto da língua, particípios irregulares, como fazer (feito), abrir (aberto), ver (visto). Portanto seria melhor dizer: “Eu havia escrito uma carta para minha mãe”.
7) Eu gostaria que ela não viesse para cá.
O verbo ‘gostar’ rege complementos introduzidos pela preposição ‘de’. Exemplo: gosto de paçoca. Mas, quando esse complemento é toda uma frase, como acima, essa frase também deve vir, ao menos na língua formal, acompanhada de uma preposição: “Eu gostaria de que ela não viesse para cá”.
8) As ideias que concordo são sempre as menos radicais.
Como dizemos concordo com as ideias, devemos dizer: “As ideias com queconcordo são sempre as menos radicais”.
9) Duas milhões de pessoas estiveram na passeata.
Alguns substantivos que indicam quantidade, como dezena, centena, milhão, bilhão, têm gênero próprio e costumam ser usados seguidos da preposição ‘de’. Exemplo: compare uma dezena de livros com um milhão de reais. No caso acima, ocorreu uma concordância imprópria do numeral duas com o substantivo feminino ‘pessoas’. O melhor é dizer e escrever “dois milhões de pessoas estiveram na passeata”.
10) À medida em que as pessoas envelhecem, elas se tornam mais tolerantes.
Locuções conjuncionais como ‘à medida que’, ‘à proporção que’ dispensam a preposição ‘em’ antes do ‘que’: “À medida que as pessoas envelhecem, elas se tornam mais tolerantes”.
11) Ele fez um tratamento eficaz para a calvice.
A palavra negritada no exemplo termina em ‘–ie’: “Ele fez um tratamento eficaz para a calvície”.
12) Os jogadores substimaram a capacidade dos rivais.
A partir do verbo estimar, foi formado o verbo subestimar. Portanto: “Os jogadores subestimaram a capacidade dos rivais”.
13) Viste todas as folhas com sua rúbrica.
A palavra é paroxítona (a sílaba tônica, com mais intensidade na frase, é a penúltima). Portanto: “Viste todas as folhas com sua rubrica”. Escreva sem acento, mas fale como “rubríca”.
14) Minha moto é igual aquela que você comprou.
Dizemos ‘igual a isto’, ‘igual a todos’, sempre com a preposição a. Como ‘aquela’ começa com a vogal a, ocorre na pronúncia a crase entre a preposição e essa primeira vogal. Na língua escrita, registramos esse fenômeno com o sinal grave: “Minha moto é igual àquela que você comprou”.
15) Já passavam das três horas quando ele chegou.
Construído com a preposição ‘de’, o verbo ‘passar’ tem o sentido de “ultrapassar, exceder”, é unipessoal e, por isso, deve permanecer na terceira pessoa do singular: “Já passava das três horas quando ele chegou”.
16) A liminar foi caçada pela desembargadora.
‘Caçar’ e ‘cassar’ são homônimos, mantendo sentidos diferentes. ‘Caçar’ é “sair à caça”, e a desembargadora não deve ter abatido a liminar a tiros. ‘Cassar’ é “suspender os efeitos de uma ação”. Nossa desembargadora foi por aqui: “A liminar foi cassada pela desembargadora”.
17) Todos temos dificuldades parecidas com a língua. Por isso, suas dúvidas vão de encontro às nossas.
‘Ir de encontro a’ é “chocar-se, trombar”. Exemplo: o carro foi de encontro ao poste. ‘Ir ao encontro de’ é “coincidir, pensar da mesma forma”. É o que acontece em uma discussão, em que, em que “suas dúvidas vão ao encontro das nossas”.
* Esses erros foram indicados por Eduardo Calbucci, Supervisor de Português do Anglo Vestibulares, e Ataliba T. de Castilho, professor aposentado na USP, autor da Gramática do Português Brasileiro para VEJA SÃO PAULO.
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